"Temos de ser mais gerais e mais eficientes em rastreios"

O recém-empossado ministro da Saúde, que já tinha integrado o executivo anterior, defende a aposta em estilos de vida saudáveis e uma melhor prescrição de medicamentos
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Como avalia de forma global os resultados do relatório da diabetes, tendo em conta que tem melhorias em vários aspetos, como complicações, controlo da doença, internamentos e mortes...

Os resultados positivos encontrados estão em linha com a progressiva melhoria do estado de saúde da população. É claro que ainda há, todavia, espaço para melhorar e isso será conseguido através de uma maior prevenção primária e da generalização do acesso a médicos de família.

Desde logo, continua a registar-se um aumento da prevalência da doença. Deve esta ser assumida como uma prioridade? O que falta fazer para combater o crescimento de casos e o elevadíssimo número de pessoas por diagnosticar?

Se podemos aceitar que deve existir um elevado número de casos ainda não diagnosticados, é também verdade que essa ausência de diagnóstico resulta da não procura de cuidados médicos. Há cerca de dois milhões de pessoas que, mesmo tendo médico de família atribuído, não vão a uma consulta anual no SNS e muitas delas, provavelmente, não visitam outro médico. Mas é preciso continuar a batalhar na promoção da alimentação saudável e no exercício físico para contrariar a tendência, mundial, de crescimento da diabetes.

A despesa nesta área continua a aumentar e é ainda pouco coberta por genéricos. Como se explica isso e como pode esta despesa ser reduzida?

Há custos diretos de medicação e de outros tratamentos e custos indiretos. Em todos, a única forma de os reduzir é ter menos diabetes. Tem havido, todavia, um esforço no sentido de uma melhor prescrição de medicamentos, uso mais precoce de insulina e recurso a antidiabéticos com melhor relação entre custo e eficácia.

Parece haver uma redução grave do número de diabéticos com retinografia feita, o que pode ter consequências nos problemas oculares. Quando é que este teste poderá ser feito de forma generalizada?

Essa é uma das minhas principais preocupações na prevenção de doenças. Temos de ser mais gerais e mais eficientes em rastreios, não só da retinopatia diabética. Depois de conhecidos estes dados, vamos ter de organizar uma estratégia para a realização e leitura de retinografias, sendo claro que há assimetrias regionais a combater.

O projeto do tratamento integrado da doença está parado na ACSS há pelo menos dois anos. Quando se avançará com este modelo de tratamento e quais as vantagens que poderá ter?

Temos de melhorar a interação com as ARS. Temos a intenção de levantar alguns dos processos ainda pendentes em áreas de grande relevância pela sua dimensão populacional e tentar resolver o que está pendente ao longo da legislatura que agora começa. Nos últimos quatro anos fizemos muito e sempre em situações muito difíceis. Se conseguirmos a estabilidade de que precisamos e se for aceite que há um entendimento unânime do que são os interesses do Estado e dos cidadãos na área da saúde, penso que podemos dar passos importantes na luta contra a diabetes. Os processos assistenciais integrados são uma peça fundamental no combate a doenças crónicas, além de serem o modelo mais simples de reforçarmos o papel dos autocuidados e da participação integrada de equipas multidisciplinares de acompanhamento e tratamento.

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